Os benefícios do extrato de feno-grego na saúde hormonal feminina

1 – Introdução

O Feno-grego (Trigonella foenum-graecum) é uma planta medicinal cujas sementes são utilizadas há séculos na culinária e na fitoterapia, especialmente na medicina ayurvédica. Seu extrato padronizado em saponinas esteroidais (conhecidas como fenosídeos) tem ganhado destaque científico pelos efeitos positivos no equilíbrio hormonal e no metabolismo. Estudos clínicos recentes investigaram suplementos orais de feno-grego que fornecem cerca de 450 mg de fenosídeos por dia, revelando benefícios importantes para diferentes públicos. Este artigo explora, em linguagem acessível porém embasada cientificamente, os principais compostos ativos do feno-grego, seus mecanismos de ação e os achados de estudos clínicos sobre seus benefícios hormonais, com ênfase nas mulheres (como melhora da libido, sintomas da menopausa, cólicas menstruais e síndrome dos ovários policísticos).

2 – Compostos Ativos e Mecanismos de Ação

As sementes de feno-grego são ricas em diversos compostos bioativos que explicam seus efeitos à saúde. Análises fitoquímicas identificam a presença de saponinas esteroidais (os fenosídeos, incluindo compostos como protodioscina e diosgenina), alcaloides (como a trigonelina), fibras solúveis do tipo galactomanana, aminoácidos incomuns (especialmente a 4-hidroxi-isoleucina) e polifenóis, entre outros (Nagulapalli Venkata et al., 2017). Esses componentes exercem ações farmacológicas variadas. As saponinas esteroidais são destaque: a protodioscina, por exemplo, possui estrutura semelhante ao hormônio DHEA (desidroepiandrosterona), um precursor natural de hormônios sexuais. Pesquisadores sugerem que essa saponina pode ser convertida em DHEA no organismo, contribuindo assim para o aumento de testosterona e estradiol endógenos de forma equilibrada (Khanna et al., 2021). Esse mecanismo ajudaria a explicar o efeito “balanceador hormonal” do feno-grego observado em estudos. Além disso, a trigonelina presente no feno-grego parece exercer leve efeito estrogênico e influenciando neurotransmissores relacionados ao humor e desejo sexual (Khanna et al., 2021).

No controle metabólico, outros compostos do feno-grego têm papel-chave. A 4-hidroxi-isoleucina, um aminoácido único dessas sementes, estimula a secreção de insulina pelo pâncreas e melhora a sensibilidade dos tecidos à insulina, favorecendo a regulação da glicemia, o que auxilia na Síndrome do Ovário Policistico (SOP). Já a alta concentração de fibras solúveis (galactomananas) retarda a absorção de carboidratos no intestino, auxiliando no controle dos picos de glicose pós-refeição (Fuller & Stephens, 2015). A diosgenina, por sua vez, é uma sapogenina esteróide que tem sido utilizada na indústria farmacêutica como precursora de hormônios sintéticos; no organismo humano, ela apresenta propriedades anti-inflamatórias e possivelmente modula o metabolismo do colesterol, podendo contribuir para efeitos cardioprotetores e também influenciar vias hormonais de maneira suave. Em conjunto, esses compostos ativos do feno-grego conferem à planta efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, hipoglicemiantes e hipolipemiantes, além de sua capacidade de modular e equilibrar hormônios sexuais de forma natural (Nagulapalli Venkata et al., 2017; Yadav & Baquer, 2014). A seguir, veremos como tais propriedades se traduzem em benefícios concretos em diferentes contextos clínicos.

3 – Melhora da Libido e Função Sexual Feminina

Um dos achados mais notáveis é o impacto positivo do feno-grego sobre a libido e função sexual em mulheres. Em um estudo clínico duplo-cego controlado por placebo com 80 mulheres saudáveis (20–49 anos) com baixo desejo sexual, a suplementação diária de 600 mg de extrato de feno-grego padronizado durante 8 semanas resultou em aumentos significativos nos níveis dos hormônios sexuais estradiol e testosterona livre, acompanhados por melhora marcante no desejo e na excitação sexual em comparação ao placebo (Rao et al., 2015). As participantes que receberam feno-grego relataram maior interesse sexual e melhor lubrificação e satisfação, indicando um efeito pró-libido consistente. Os autores concluíram que o extrato de feno-grego pode ser um tratamento natural útil para aumentar o desejo sexual feminino, sem efeitos adversos relevantes (Rao et al., 2015). Esses resultados foram corroborados por outro ensaio clínico com mulheres jovens saudáveis: após 42 dias tomando 500 mg/dia de um extrato concentrado de feno-grego, observou-se redução de 41% em problemas sexuais e diminuição de 40% na irritabilidade, além de relatos de melhora na secura vaginal (Khanna et al., 2021). Interessantemente, nesse estudo o feno-grego elevou discretamente os níveis de estrógeno e andrógenos apenas nas mulheres que apresentavam concentrações hormonais baixas no início, sugerindo uma ação moduladora ou adaptogênica, aumentando hormônios quando em deficiência, mas sem exceder os níveis normais em condições já adequadas (Khanna et al., 2021). Esse perfil indica que o feno-grego atua promovendo um reequilíbrio hormonal suave, o que pode explicar as melhorias no bem-estar sexual e emocional das participantes. Vale ressaltar que, por se tratar de uma erva com compostos fitoestrogênicos de ligação fraca aos receptores, seus efeitos tendem a ser normalizadores, contribuindo para reduzir sintomas de baixa hormonal (como baixa libido, secura e alterações de humor) sem os riscos associados à terapia hormonal convencional.

4 – Alívio dos Sintomas da Menopausa

O feno-grego também demonstra benefícios importantes em mulheres menopausadas, aliviando sintomas resultantes do declínio estrogênico natural desse período. Pesquisadores conduziram um estudo clínico randomizado com mulheres pós-menopausa (média de 54 anos) que apresentavam sintomas moderados a graves do climatério. O grupo tratado recebeu o extrato de feno-grego em dose relativamente baixa (500 mg/dia) por 6 semanas. Os resultados mostraram melhoria significativa no equilíbrio hormonal e na qualidade de vida dessas mulheres em comparação ao placebo (Begum et al., 2016; Khanna et al., 2020). Em apenas duas semanas de uso, já se observava melhora na disposição e redução de sintomas vasomotores. Ao final do estudo, houve redução acentuada na frequência e intensidade dos fogachos (ondas de calor) e dos suores noturnos, bem como diminuição de dores musculares e articulares e alívio da secura vaginal (Begum et al., 2016). Num período um pouco mais longo, de 90 dias, a suplementação com 1.000 mg/dia de extrato de feno-grego levou a um aumento de aproximadamente 120% nos níveis de estradiol circulante, acompanhado de melhorias clínicas notáveis: cerca de 32% das mulheres relataram desaparecimento completo dos fogachos, enquanto as demais tiveram redução da frequência dos episódios de 3–5 para apenas 1–2 ondas de calor por dia (Begum et al., 2016). Além disso, questionários de avaliação do climatério mostraram redução significativa de queixas como insônia, irritabilidade, depressão e fadiga nessas pacientes. Esses achados apontam para um pronunciado efeito fitoestrogênico do feno-grego, ou seja, seus compostos vegetais mimetizam parcialmente a ação do estrógeno, atenuando os sintomas decorrentes da sua falta na menopausa. Importante destacar que, mesmo com elevação do estradiol, os níveis hormonais permaneceram dentro da faixa considerada segura e fisiológica para a idade, indicando que o extrato agiu restaurando um equilíbrio benéfico sem ultrapassar limites saudáveis (Begum et al., 2016). Esse perfil de segurança é valioso, visto que muitas mulheres buscam alternativas naturais à terapia de reposição hormonal, evitando os potenciais efeitos colaterais desta. Em síntese, suplementar feno-grego padronizado mostrou-se eficaz em reduzir os sintomas da menopausa, melhorando calores, suores, dores e qualidade de vida, graças à sua ação moduladora sobre os hormônios femininos.

5 – Dismenorreia (Cólica Menstrual)

Outra aplicação promissora do feno-grego é no alívio da dismenorreia, que são as dores e sintomas sistêmicos associados às cólicas menstruais. Em um estudo clínico controlado com jovens universitárias solteiras que sofriam de dismenorreia primária, o uso de cápsulas de pó de semente de feno-grego durante os primeiros três dias de menstruação trouxe resultados animadores (Younesy et al., 2014). As participantes tomaram 2 a 3 cápsulas (totalizando 900 mg de pó de feno-grego por dose) três vezes ao dia, em cada ciclo, e foram comparadas a um grupo placebo. Após dois meses de tratamento (dois ciclos menstruais), houve redução significativa na intensidade da dor menstrual no grupo do feno-grego em relação ao placebo. A melhora da dor foi evidente tanto na escala de avaliação da cólica quanto na diminuição do uso de analgésicos pelas mulheres tratadas (Younesy et al., 2014). Além disso, sintomas sistêmicos frequentemente associados às cólicas, como fadiga, náuseas, dores de cabeça, desmaios e sensação de desfalecimento, diminuíram de forma pronunciada entre aquelas que usaram feno-grego, indicando um benefício além do simples alívio da dor uterina. Nenhum efeito colateral relevante foi relatado, sugerindo que o feno-grego foi bem tolerado (Younesy et al., 2014). Os autores atribuem esses efeitos às propriedades anti-inflamatórias e antiespasmódicas naturais do feno-grego. Suas saponinas podem inibir a síntese de prostaglandinas inflamatórias envolvidas na contração dolorosa do útero, enquanto alcaloides e flavonoides contribuem para reduzir espasmos e relaxar a musculatura lisa. Dessa forma, o feno-grego desponta como um aliado potencial para mulheres que sofrem com cólicas menstruais intensas, oferecendo redução da dor e do desconforto geral durante a menstruação de maneira natural e segura, conforme evidenciado por estudos clínicos (Younesy et al., 2014; Hassanzadeh et al., 2024).

6 – Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma condição endocrinológica comum em mulheres em idade reprodutiva, caracterizada por desequilíbrio hormonal (excesso de androgênios como a testosterona), ovários com múltiplos cistos, menstruação irregular, acne, hirsutismo e frequentemente resistência à insulina. O impacto do feno-grego na SOP tem sido foco de pesquisas, com resultados positivos. Em um ensaio clínico recente, randomizado e controlado por placebo, 113 mulheres com SOP receberam o extrato de semente de feno-grego na dose de 1.000 mg por dia (2 cápsulas de 500 mg) durante 3 meses, enquanto 95 mulheres receberam placebo (Singh et al., 2023). Os resultados foram bastante promissores: o grupo tratado com feno-grego apresentou uma redução significativa no número de cistos ovarianos, acompanhada de diminuição do volume dos ovários policísticos, em comparação ao grupo placebo (Singh et al., 2023). Houve também melhora importante dos parâmetros hormonais: os níveis elevados de testosterona livre típicos da SOP caíram significativamente no grupo feno-grego, assim como houve redução dos níveis do hormônio luteinizante (LH) e aumento da globulina carreadora de hormônio sexual (SHBG), indicando menor disponibilidade de androgênios ativos circulantes. Clinicamente, essas alterações hormonais positivas se refletiram em menstruações mais regulares e redução dos sintomas de hiperandrogenismo, como a hirsutismo (excesso de pelos) e a acne, nas mulheres que tomaram feno-grego (Singh et al., 2023). Além disso, muitas participantes relataram melhora na fertilidade, com retomada da ovulação normal, embora esse desfecho não tenha sido medido diretamente no estudo de curto prazo. Vale mencionar que nenhum efeito adverso grave foi observado, reforçando o perfil de segurança do suplemento. Esses achados confirmam e ampliam evidências anteriores de estudos piloto, consolidando o feno-grego como uma alternativa fitoterápica viável para auxiliar no manejo da SOP (Sankhwar et al., 2023).

Os mecanismos por trás desses benefícios na SOP parecem envolver tanto a ação direta dos compostos do feno-grego sobre os receptores hormonais quanto a melhora da sensibilidade à insulina (já que a resistência insulínica é peça central na fisiopatologia da SOP). De fato, no estudo de Singh et al. houve também redução significativa da glicemia de jejum e do índice HOMA-IR (medida de resistência à insulina) no grupo tratado – dados que serão detalhados na próxima seção sobre glicemia (Singh et al., 2023). Em suma, ao reduzir androgênios excessivos e melhorar parâmetros metabólicos, a suplementação com extrato de feno-grego se mostrou eficaz em aliviar múltiplos aspectos da SOP, oferecendo uma opção natural e segura para melhorar a qualidade de vida e o equilíbrio hormonal dessas pacientes.

7 – Considerações Finais

Em conclusão, o extrato de feno-grego padronizado na forma de cápsulas ou gotas que forneçam cerca de 450 mg de fenosídeos por dia, apresenta um perfil altamente promissor como suplemento natural para suporte hormonal e metabólico. Em mulheres, evidências científicas robustas demonstram benefícios que vão desde o aumento do desejo sexual e melhoria da função sexual, passando pelo alívio de sintomas da menopausa (fogachos, suores, secura vaginal, irritabilidade), redução das cólicas menstruais e até auxílio no gerenciamento da síndrome dos ovários policísticos através da normalização dos hormônios e função ovariana.

Os mecanismos de ação por trás desses efeitos envolvem seus diversos compostos ativos: as saponinas esteroidais exercendo efeito semelhante aos hormônios sexuais e estimulando sua produção endógena, as fibras e a 4-hidroxi-isoleucina melhorando a homeostase da glicose, além de efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios gerais que contribuem para a saúde endócrina e metabólica. Importante destacar que os estudos até o momento relatam um bom perfil de segurança do feno-grego nas doses estudadas, sem incidência significativa de eventos adversos, o que é encorajador para seu uso como terapia complementar.

Dito isso, para muitos indivíduos, o feno-grego desponta como um aliado natural valioso, uma pequena semente com grandes benefícios, capaz de promover o equilíbrio hormonal e metabólico de forma integrada. Seu respaldo em pesquisas científicas atuais confere credibilidade ao seu uso, unindo o uso tradicional à rigorosa evidência clínica moderna (Singh et al., 2023; Mansoori et al., 2020; Vajdi et al., 2024). Em um cenário onde busca-se cada vez mais alternativas seguras e eficazes, o feno-grego destaca-se como uma opção promissora para melhorar a saúde hormonal de mulheres e homens, bem como contribuir para uma melhor qualidade de vida.

8 – Referências Bibliográficas

Begum, S.S. et al. (2016). A Novel Extract of Fenugreek Husk (FenuSMART™) Alleviates Postmenopausal Symptoms and Helps to Establish the Hormonal Balance: A Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Study. Phytotherapy Research, 30(11), 1775-1784.
Fuller, S. & Stephens, J.M. (2015). Diosgenin, 4-hydroxyisoleucine, and fiber from fenugreek: Mechanisms of actions and potential effects on metabolic syndrome. Advances in Nutrition, 6(2), 189-197.
Hassanzadeh, R. et al. (2024). The Effect of Fenugreek on the Severity of Dysmenorrhea: A Systematic Review and Meta-analysis. Current Drug Research Reviews, 16(2), 219-227.
Khanna, A. et al. (2021). Safety and influence of a novel extract of fenugreek on healthy young women: a randomized, double-blinded, placebo-controlled study. Clinical Phytoscience, 7(62).
Mansoori, A. et al. (2020). Effect of fenugreek extract supplement on testosterone levels in males: A meta-analysis of clinical trials. Phytotherapy Research, 34(7), 1550-1555.
Nagulapalli Venkata, K.C. et al. (2017). A small plant with big benefits: Fenugreek (Trigonella foenum-graecum Linn.) for disease prevention and health promotion. Molecular Nutrition & Food Research, 61(6), 1600950.
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Rao, A. et al. (2023). Libifem® (Trigonella foenum-graecum) in conjunction with exercise on muscle strength, power, endurance, and body composition in females aged 25–45: a randomized controlled trial. Frontiers in Sports and Active Living, 5, 1207013.
Singh, A. et al. (2023). Efficacy of a proprietary fenugreek seed extract (Trigonella foenum-graecum, Furocyst®) in women with polycystic ovary syndrome (PCOS): a randomized, double-blind, placebo-controlled study. Journal of the American Nutrition Association, 42(7), 651-659.
Vajdi, M. et al. (2024). Therapeutic effect of fenugreek supplementation on type 2 diabetes mellitus: A systematic review and meta-analysis of clinical trials. Heliyon, 10(17), e36649.
Yadav, U.C. & Baquer, N.Z. (2014). Pharmacological effects of Trigonella foenum-graecum L. in health and disease. Pharmaceutical Biology, 52(2), 243-254.
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