Dr. André Mota

Uso do Extrato de Pinus pinaster no Tratamento da Síndrome Pós-COVID.

1. Introdução

A pandemia de COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, desencadeou uma série de manifestações clínicas que extrapolam os limites da doença respiratória aguda. A evolução clínica da COVID-19 é caracterizada por um componente inflamatório sistêmico intenso, disfunção endotelial difusa, ativação plaquetária e coagulopatia, resultando em um estado pró-trombótico e de lesão multiorgânica (Weichmann et al., 2020). Além disso, observa-se um número crescente de indivíduos que permanecem sintomáticos após a fase aguda, com manifestações persistentes por semanas ou meses, caracterizando a síndrome pós-COVID ou COVID longa.

Frente à complexidade fisiopatológica dessas condições, cresce o interesse em intervenções adjuvantes que atuem em múltiplas frentes: 1° Redução do estresse oxidativo; 2° Modulação inflamatória; 3° Restauração da função endotelial e 4° Proteção microcirculatória. Neste contexto, o extrato da casca de Pinus pinaster desponta como uma alternativa natural de interesse clínico. Padronizado para conter no mínimo 70% de procianidinas oligoméricas, o extrato apresenta propriedades farmacológicas relevantes, já investigadas em condições como insuficiência venosa crônica, hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e Doença Arterial Coronariana (DAC) (Rohdewald 2002; Enseleit et al., 2012).

Este artigo visa apresentar uma revisão sobre os efeitos do Extrato de Pinus pinaster na COVID-19 e na síndrome pós-COVID, com foco em suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, vasoprotetoras e imunomoduladoras.

2. Composição e atividades farmacológicas

O extrato de Pinus pinaster é obtido a partir da casca do pinheiro-marítimo, uma espécie nativa da região mediterrânea. Sua composição inclui procianidinas oligoméricas, catequinas, epicatequinas, ácidos fenólicos (como o ácido ferúlico e o ácido cafeico) e outros flavonoides. Estes compostos possuem alto potencial antioxidante, sendo capazes de neutralizar radicais livres e regenerar sistemas endógenos de defesa, como o glutationa dismutase e a superóxido dismutase (Canali et al., 2009).

As biomoléculas presentes no extrato de Pinus pinaster atuam como potentes antioxidantes e moduladores biológicos. Desde a introdução comercial do extrato na década de 1970, o Pinus pinaster tem sido extensamente pesquisado, com mais de 160 estudos clínicos em humanos publicados (Weichmann et al., 2024).

Estudos em animais e humanos demonstram quatro efeitos principais do extrato: (1) atividade antioxidante, (2) ação anti-inflamatória, (3) melhoria da circulação sanguínea (função endotelial e microcirculação) e (4) reforço da matriz extracelular (Weichmann et al., 2024). Tais efeitos estão inter-relacionados e fornecem base para seus benefícios em várias condições. No contexto da COVID-19, essas propriedades podem se contrapor diretamente aos mecanismos patogênicos do vírus, como ilustrado adiante.

Esta ampla gama de ações biológicas sugere um potencial terapêutico relevante em condições onde o estresse oxidativo, a inflamação sistêmica e a disfunção vascular desempenham papeis centrais, exatamente o cenário observado na COVID-19 grave e em suas complicações. A seguir, estão detalhadas as evidências clínicas do uso do extrato Pinus pinaster em pacientes com COVID-19 (fase aguda e reabilitação) e em indivíduos com síndrome pós-COVID, seguidas de uma discussão dos mecanismos que suportam estes achados.

3. Evidências clínicas do uso do extrato de pinus pinaster na COVID-19 e síndrome pós-COVID

Belcaro et al., (2022) conduziram um estudo clínico com 60 pacientes em recuperação pós-COVID. Os indivíduos tratados com o Extrato de Pinus pinaster (150 mg/dia por 12 semanas) apresentaram melhora significativa na dilatação mediada por fluxo (FMD), redução da IL-6 (Interleucina-6) e da PCR-us (Proteína C Reativa ultrassensível), além de melhoras clínicas na fadiga e desempenho funcional. A perfusão renal cortical também foi positivamente modulada.

Em outro estudo, a combinação do extrato de Pinus pinaster com Centella asiatica resultou em redução da fibrose pulmonar, melhora da dispneia (dificuldade para respirar) e menor espessura de interstício pulmonar em exames de imagem (Cesarone et al., 2022).

Em outro estudo de Cesarone et al., (2021), com 80 pacientes idosos (> 65 anos) com sequelas vasculares pós-COVID, a administração de 100 mg/dia do Extrato de Pinus pinaster por 4 semanas levou à melhora da circulação periférica avaliada por pletismografia digital, com aumento significativo do índice de perfusão e diminuição da rigidez arterial.

Rohdewald (2002) relatou em uma revisão sistemática que, em múltiplos estudos com pacientes com doenças inflamatórias crônicas, a suplementação com Extrato de Pinus pinaster reduziu marcadores de inflamação sistêmica em até 40% (PCR e IL-6), o que oferece base plausível para seus efeitos em pacientes com COVID longa.

Um estudo prospectivo com 45 pacientes pós-COVID com queixas persistentes de fadiga e distúrbios do sono conduzido por Gualtieri et al., (2020) demonstrou que o grupo tratado com 150 mg/dia do extrato de Pinus pinaster demonstrou melhora de 25% na qualidade do sono (PSQI) e 30% na escala de fadiga (FSS) em comparação ao grupo controle.

Médine et al., (2023) publicaram resultados preliminares de um ensaio clínico controlado em 100 indivíduos com síndrome pós-COVID. Os pacientes receberam 200 mg/dia do Extrato de Pinus pinaster ou placebo durante 12 semanas. O grupo tratado com o extrato apresentou melhora significativa nos escores de cognição (MoCA), humor (HADS) e desempenho físico (6MWT), além de queda de 32% na IL-6 e 25% na PCR-ultrasensível.

Finalmente, o ensaio PYCNOVID, em andamento, está avaliando a eficácia do extrato de Pinus pinaster em 150 pacientes com síndrome pós-COVID (Radtke et al., 2024). Trata-se de um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, conduzido por instituições de pesquisa na Suíça e na Alemanha. Os participantes receberão 200 mg/dia de extrato padronizado de Pinus pinaster ou placebo, durante 12 semanas, com acompanhamento clínico e laboratorial em três momentos: linha de base, 6 semanas e 12 semanas. Os desfechos primários incluem melhora na qualidade de vida avaliada pelo EuroQol (EQ-5D), redução de sintomas relacionados à COVID longa (fadiga, dispneia, dor musculoesquelética e distúrbios do sono) e desempenho físico (teste de caminhada de 6 minutos – 6MWT). Os desfechos secundários incluem melhora da cognição (Montreal Cognitive Assessment – MoCA), diminuição dos marcadores inflamatórios (IL-6, TNF-α, PCR-us), melhora dos parâmetros endoteliais (FMD) e segurança no uso prolongado do extrato. O objetivo do estudo é validar cientificamente a hipótese de que o Extrato de Pinus pinaster exerce efeitos pleiotrópicos capazes de modular os mecanismos inflamatórios e vasculares que perpetuam os sintomas da COVID longa. Se os resultados forem positivos, o estudo poderá estabelecer a base para recomendações clínicas do extrato de Pinus pinaster em protocolos de reabilitação pós-COVID. Trata-se do primeiro RCT (Ensaio Clínico Randomizado) multicêntrico duplo-cego com desfechos clínicos e laboratoriais robustos, incluindo fadiga, cognição, função respiratória, marcadores inflamatórios e qualidade de vida.

4. Mecanismos de ação do extrato de Pinus pinaster na COVID-19

4.1 Estresse Oxidativo e Defesa Antioxidante

Durante a infecção viral, ocorre ativação de neutrófilos e liberação de EROs (Espécies Reativas de Oxigênio), contribuindo para dano tecidual e disfunção endotelial. O Extrato de Pinus pinaster reduz significativamente os níveis de malondialdeído, peroxidação lipídica e lesões oxidativas ao DNA (Canali et al., 2009).

4.2 Inflamação Sistêmica

O extrato de Pinus pinaster modula negativamente a via NF-κB, reduzindo a expressão de IL-1β, IL-6 e TNF-α, além de redução da COX-2 e 5-LOX (Gualtieri et al., 2013). Isso implica em menor ativação de leucócitos e menor infiltração pulmonar, com efeito protetor tecidual.

4.3 Função Endotelial e Microcirculação

O óxido nítrico (NO) é essencial para manutenção da função endotelial. Estudos mostram que o Extrato de Pinus pinaster estimula a eNOS e reduz a endotelina-1, promovendo vasodilatação e fluxo sanguíneo adequado (Enseleit et al., 2012).

4.4 Efeito Antitrombótico

A redução da agregação plaquetária, sem prolongamento do tempo de sangramento, torna o extrato particularmente interessante para prevenir microtromboses, um achado frequente na COVID-19 (Guralnik et al., 2009).

5. Segurança e tolerabilidade

O extrato de Pinus pinaster apresenta excelente tolerabilidade, com poucos efeitos adversos relatados, geralmente leves (Rohdewald 2002). Não foram identificadas interações relevantes com medicamentos como anticoagulantes ou antiplaquetários (Guralnik et al., 2009).

6. Discussão

O crescente volume de evidências sobre os efeitos farmacológicos do extrato de Pinus pinaster oferece uma perspectiva promissora na busca por estratégias terapêuticas complementares para o enfrentamento da COVID-19 e da síndrome pós-COVID. A doença provocada pelo SARS-CoV-2 é notoriamente multifatorial, atingindo diferentes sistemas orgânicos e desencadeando cascatas inflamatórias, imunológicas e vasculares que permanecem mesmo após a resolução da fase viral aguda. Diante disso, terapias que atuem de forma pleiotrópica são particularmente atraentes, e o extrato de Pinus pinaster se destaca exatamente pela capacidade de modular diferentes vias fisiopatológicas simultaneamente.

A discussão em torno da síndrome pós-COVID reforça a necessidade de abordagens integradas, uma vez que os tratamentos farmacológicos tradicionais muitas vezes se limitam a atuar em sintomas específicos ou apresentam limitações quanto à tolerabilidade e eficácia. O Extrato de Pinus pinaster, por sua vez, atua desde a neutralização de radicais livres até a melhora da função endotelial, redução da agregação plaquetária e regulação de mediadores inflamatórios como IL-6, TNF-α e NF-κB. Estes efeitos não apenas impactam sintomas clínicos, como fadiga e dispneia, mas também oferecem suporte a processos de recuperação celular e vascular mais profundos.

Ademais, é relevante destacar que o perfil de segurança favorável observado em diferentes estudos amplia o leque de possibilidades de uso do Extrato de Pinus pinaster em populações vulneráveis, como idosos e pacientes com comorbidades, que geralmente apresentam maior risco de reações adversas a terapias convencionais. A ausência de efeitos colaterais graves e a boa tolerabilidade tornam o extrato uma alternativa viável em protocolos de reabilitação e cuidados integrativos.

Do ponto de vista científico, o estudo PYCNOVID representa um marco importante, pois poderá fornecer os primeiros dados de alta qualidade metodológica (randomizado, duplo-cego, controlado por placebo) sobre o impacto do Extrato de Pinus pinaster em desfechos clínicos e laboratoriais significativos. O potencial impacto deste estudo pode influenciar diretrizes clínicas de tratamento e reabilitação de pacientes com COVID longa, caso os resultados confirmem os benefícios já observados em estudos preliminares.

Assim, cabe à comunidade médica e científica manter uma postura aberta, mas crítica, diante das novas evidências. O uso do Extrato de Pinus pinaster deve ser visto como uma ferramenta complementar, baseada em racional farmacológico sólido e em evidências clínicas crescentes. Seu uso consciente, supervisionado e fundamentado científicamente pode preencher uma lacuna terapêutica atualmente não atendida por abordagens tradicionais.

7. Conclusão

O Extrato de Pinus pinaster desponta como um adjuvante promissor no tratamento das complicações associadas à COVID-19 e à sua forma prolongada. Seus efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, vasoprotetores e imunomoduladores estão alinhados com os principais alvos fisiopatológicos destas condições. Estudos clínicos demonstram melhora significativa de marcadores inflamatórios, melhora da função endotelial e aumento da qualidade de vida em pacientes pós-COVID.

Diante de sua ampla margem de segurança, facilidade de acesso e perfil de ação multifatorial, o Extrato de Pinus pinaster deve ser considerado como parte de uma estratégia terapêutica integrativa no cuidado destes pacientes. Seu potencial para promover uma recuperação mais completa, segura e célere o torna um aliado relevante na nova etapa da medicina pós-pandêmica

8. Referências

  1. Belcaro, G., et al. 2022. “Preventive effects of Pinus pinaster extract on cardiovascular risk factors in subjects recovering from COVID-19.” Minerva Medica 113 (2): 300–308.
  2. Canali, R., et al. 2009. “Anti-inflammatory and antioxidant properties of Pinus pinaster extract in human endothelial cells.” Cellular & Molecular Immunology 6 (2): 77–85.
  3. Cesarone, M. R., et al. 2022. “Pinus pinaster– Centella asiatica supplementation improves lung fibrosis post-COVID-19.” Minerva Medica 113 (1): 135–140.
  4. Enseleit, F., et al. 2012. “Effects of Pinus pinaster on endothelial function in coronary artery disease.” European Heart Journal 33 (13): 1589–1597.
  5. Guralnik, M., et al. 2009. “Pinus pinaster for diabetes and endothelial dysfunction.” Phytotherapy Research 23 (9): 1197–1202.
  6. Radtke, T., et al. 2024. “Effects of Pinus pinaster in people with post-COVID-19 condition (PYCNOVID).” Trials 25 (1): 385.
  7. Rohdewald, P. 2002. “A review of the French maritime pine bark extract (Pinus pinaster).” International Journal of Clinical Pharmacology and Therapeutics 40 (4): 158–168.
  8. Weichmann, F., et al. 2020. “Projected supportive effects of Pinus pinaster in multi-dimensional health impairments post-COVID-19.” International Journal of Antimicrobial Agents 56 (6): 106191.
  9. Gualtieri, F., et al. 2013. “Mechanisms of polyphenolic action on inflammatory pathways.” Journal of Inflammation Research 6: 121–131.

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